Bruna Breda é Coordenadora Nacional na ATB e conta-nos que o seu maior desafio, todos os dias, é ajudar a tornar as escolas mais inclusivas. Lugares onde todos os alunos se sintam acolhidos, motivados e possam crescer bem. Um objetivo para o qual se continua sempre a preparar melhor, numa aprendizagem continua, que recentemente a levou bem longe.
ATB: Este Verão de 2018 esteve numa das maiores favelas do mundo, a trabalhar como voluntária. Qual foi a impressão mais forte que lhe causou Kibera, no Quénia?
Bruna Breda: Estive a fazer uma experiência de voluntariado com uma associação fundada por uma portuguesa, a “From Kibera With Love”. Basicamente o trabalho que ali desenvolvi acabou por ser muito parecido com aquilo que faço cá em Portugal, no âmbito da ATB. Apoio ao estudo das crianças, algumas atividades lúdicas e um acompanhamento das suas rotinas.
Aquilo que mais me marcou foi a relação que estas crianças africanas têm com a “educação”. Olham para a escola como uma oportunidade muito importante. Vêem-na como algo que lhes vai mudar a vida e sentem-se agradecidas por poderem frequentar os estudos. Quando chegávamos à sala de aula os alunos já estavam todos lá dentro, à nossa espera. Prontos para começar a trabalhar. E nos dias de férias, estudavam todos os dias com a maior naturalidade.
Cá é comum as crianças olharem para a escola como uma obrigação que “é chata”. Mas em Kibera é tudo muito simples. Conseguem estar divertidas, durante muito tempo, com qualquer coisa e tudo o que eu fazia era considerado “espetacular”. É um cenário muito diferente daquele que encontro, em geral, nas escolas portuguesas. Cá as crianças têm acesso a muitas coisas, mas vivem numa insatisfação permanente. Têm dificuldade em valorizar o que têm. Foi esta a grande diferença que encontrei.
ATB: Como é que foi a sua entrada no trabalho desta área social?
Bruna Breda: Estou já há dois anos na ATB, depois de ter estudado ciências da educação na universidade. Não sabia muito bem o que iria encontrar neste curso, mas acabei por descobrir que a educação não se resume ao ensino. Está em tudo o que fazemos na vida.
Hoje acredito que é através da educação que podemos “mudar o mundo”. Foi esta convicção que me levou depois a tirar também um mestrado na área da educação social.
ATB: Qual foi até agora o seu percurso na ATB?
Bruna Breda: Comecei por ser coordenadora local, nas escolas de Santarém e da Chamusca. O meu trabalho era gerir a equipa de professores que estavam a colaborar com a ATB, implementando procedimentos e projetos variados. Através desta experiência fui vendo como é ainda tão comum, nas nossas escolas, os alunos serem todos nivelados pela mesma bitola. Não é costume ser tida em conta a realidade de cada aluno, dar atenção às circunstâncias de cada um. E esta abordagem acaba por fragilizar depois, muitas vezes, a relação com a escola.
Hoje na ATB tenho nas mãos novos desafios que passam por pensar, precisamente, em respostas que contribuam para um modelo de escola menos massificado, mais inclusivo. Estamos já a testar soluções, por exemplo, com o município da Chamusca, com quem trabalhamos em equipa e onde estão a surgir resultados muito interessantes.
Atualmente, a nível nacional, a ATB tem 25 coordenadores e cabe-me também trabalhar com todos para que, em sintonia, esta nova abordagem comece igualmente a ser implementada nos projetos que temos a decorrer noutras escolas do país.
ATB: E esta recente experiência em África, o que é que acrescentou ao seu trabalho na ATB?
Bruna Breda: Vim com muita vontade de partilhar a minha experiência, de fazer coisas diferentes e de continuar a trabalhar com crianças, investindo nas suas vidas. Sei que cá, por muito incrível que pareça, o facto de termos muitos recursos às vezes dificulta e complica tudo. E isto pode tornar-se frustrante, por vezes. Mas sei também que o caminho é por aqui.
Acredito que, se explicarmos às pessoas porque estamos a fazer o que fazemos, podemos ajudar a tornar realidade uma nova forma de estar na escola.